quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A VALSA COM BASHIR

Waltz with Bashir

• Realização e argumento: Ari Folman • Vozes: Ari Folman, Ron Ben-Yishai, Ronny Dayag. 
• Nacionalidade: Israel/Alemanha/França/EUA,2008

Para quem ainda acha que a animação é só para as crianças (e só quem tem estado desatento nos últimos 20 anos é que pode achar isso), A Valsa com Bashir será uma revelação. Mas mesmo para quem sabe que a animação é uma forma de expressão artística sem limites e capaz de abarcar literalmente todos os públicos, A Valsa com Bashir será também uma surpresa. Não é por fundir dois tipos de cinema aparentemente tão opostos como são o documentário e a animação (por exemplo, Winsor McCay já o tinha feito há 90 anos no magistral The Sinking of the Lusitania), nem o de apresentar as memórias do seu criador de uma forma que por vezes se aproxima do stream of consciousness (a animação sempre foi o terreno mais ideal para isso, e os exemplos não faltam). O grande mérito de A Valsa com Bashir é reunir todas essas características, somadas a uma imagética absolutamente invulgar, numa obra poderosíssima sobre os horrores de guerra e a forma como as experiências traumáticas afectam a nossa memória e, a reboque, toda a nossa vida. A história é a do próprio realizador, Ari Folman, que em 1982 combatia por Israel na Guerra do Líbano e assistiu então ao brutal massacre de Sabra e Chatila. A acção decorre no presente, com o cineasta a constatar que não se lembra de rigorosamente nada desse período, e a lançar-se numa série de encontros com outras pessoas que estiveram também em Beirute, na tentativa de resgatar as suas memórias perdidas. Quase todas as personagens que surgem no filme são as reais e, ao contrário do que possa parecer à primeira vista, o filme não foi feito através de qualquer processo de rotoscopia (ou seja, 'decalcando' as imagens reais fotograma a fotograma) mas sim animando tudo de raiz, numa fusão de animação tradicional, informática e em Flash, com excelentes resultados gráficos. E o mais impressionante é como tudo resulta num filme poderosíssimo, que não só lança a animação num novo patamar de excelência como é absolutamente diferente de tudo o que está a correr nos cinemas. E, o que mais interessa, é muito, muito bom.

O melhor: Não vai ver outro filme como este tão cedo.
O pior: Será que o facto de ser em animação ainda o afastará do público que ele merece?

Luis Salvado

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