quinta-feira, 5 de março de 2009

Watchmen, da bd para o cinema


João Miguel Lameiras

Vinte e três anos após a publicação da Banda Desenhada original, “Watchmen”, a BD de culto de Alan Moore e Dave Gibbons que muitos, incluíndo o próprio Moore, consideravam impossível de filmar, chega finalmente aos cinemas pela mão de Zack Znyder que, depois de “300” de Frank Miller, volta a adaptar uma BD ao cinema.

Publicada originalmente em 1986 como uma mini-série de 12 números, “Watchmen”, a par com “The Dark Knight Returns” de Frank Miller e “Maus”, de Art Spiegelman, também de 1986, veio mudar a forma como a Banda Desenhada era encarada pelo público americano, provando que é possível contar histórias adultas e complexas através da BD. No caso, Moore reflecte sobre as consequências da existência de super-heróis no mundo real, numa história em que o assassinato de um antigo super-herói leva um dos seus antigos colegas a investigar as causas dessa morte, para concluir que não passavam de peões de uma conspiração muito mais vasta.

Passada em 1985, mas numa realidade paralela, em que os EUA tinham vencido a guerra do Vietname, graças aos super-heróis e em que Nixon continua no poder e o confronto nuclear com a URSS está eminente, “Watchmen” é uma história extremamente complexa e cheia de informação, construída com a precisão de um mecanismo de relojoaria, o que dificultava, e muito, uma adaptação cinematográfica.
Apesar disso, sucederam-se as tentativas falhadas ao longo dos últimos vinte anos de levar o livro ao cinema. Finalmente, seria Zack Znyder, escudado no grande sucesso de “300” a concretizar o sonho de muitos fãs (e o pesadelo de Alan Moore que, de relações cortadas com a DC, a editora do livro, e com Hollywood, não quer nem ouvir falar do filme) de levar “Watchmen” ao grande ecrã.
E o resultado é um filme denso e visualmente espectacular, que consegue transmitir muita informação de forma eficaz (veja-se o notável genérico, ao som de “The Times are a Changing” de Bob Dylan) bastante fiel à BD original e que faz justiça ao livro de Moore e Gibbons, de que recria inúmeras imagens e uma grande quantidade de diálogos, com a principal alteração em relação à BD, em termos do final - com a criatura espacial lovecraftiana que no livro destroi Nova Iorque a ser substituida, com vantagem, por uma explosão nuclear atribuída ao Dr. Manhattan - a funcionar bastante bem.

Com um excelente leque de actores pouco conhecidos, com destaque para Jackie Earle Haley que faz um notável Rorschach e para o espectacular Dr. Manhattan digital, os únicos problemas em termos de casting são Matthew Goode como Ozymandias (o papel exigia um actor com outra presença) e a caracterização do actor que faz de Nixon, que parece quase um boneco da “Contra Informação”.

Zack Zinyder disse que já ficaria contente se o seu filme funcionasse como um trailler de 2h30m que levasse as pessoas a comprar o livro de Moore e Gibbons e, se esse objectivo já foi amplamente cumprido, não foi o único.
Mesmo que o director’cut a sair em DVD no Verão, com mais meia hora de filme, a animação de “Tales of the Black Freighter”, (a história de piratas que um dos personagens lê no livro e que funciona como contraponto e comentário à acção principal) e o documentário “Under the Hood”, que conta a origem dos Minutemen, vá permitir uma experiência ainda mais próxima da BD original, tal como chegou às salas de cinema, o “Watchmen” de Zack Znyder não desilude os fãs e confirma ao grande público algo que o “Dark Knight” de Nolan já tinha deixado perceber: que os filmes de super-heróis não precisam de ser um mero divertimento inconsequente.

(“Watchmen - Os Guardiões”, de Zack Snyder, com Carla Gugino, Jeffrey Dean Morgan, Jackie Earle Haley e Patrick Wilson, Warner Bros/ Legendary Pictures)

Copyright: © 2009 Diário As Beiras; João Miguel Lameiras

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